O livro "É TARDE PARA SABER" do escritor Josué Guimarães é um romance poderosíssimo e muitíssimo tocante que se passa no Rio de Janeiro durante nossa vergonhosa época da ditadura militar brasileira nos anos 70. Trata do relacionamento do casal Mariana e Cássio (ela uma típica garota branca, classe média alta e nada politizada e ele um cara humilde mas que sabia exatamente o que estava acontecendo naquela que foi a fase mais tenebrosa da nossa história).
Lembro que o li quando era bem nova e não entendi muito bem o contexto histórico/politico/social, mas hoje infelizmente entendo. Se possível leia-o o quanto antes, é bem curtinho e muito necessário. Quanto ao final... Ahhhhhhh, o final. Confesso aqui que chorei de soluçar, e isso é tudo, não vou dar nenhum spoiler, prometo.
" Nada de insinuações, quanto a moça casta
e que não tinha , não tinha namorado.
Algo extraordinário terá acontecido,
terremoto, chegada de rei,
as ruas mudaram de rumo,
para que demore tanto, é noite. "
" Esta cidade do Rio!
tenho tanta palavra meiga,
conheço vozes de bichos,
sei os beijos mais violentos,
viajei, briguei, aprendi.
Estou cercado de olhos,
de mãos, afetos, procuras. "
"Assim, noturno cidadão de uma república
enlutada, surges a nossos olhos
pessimistas que te inspecionam e meditam!"
" Eis o tenebroso, o viúvo, o inconsolado,
o corvo, o nunca mais, o chegado muito tarde
a um mundo muito velho. "
" Como pois interpretar
o que os heróis não contam?
Como vencer o oceano
se é livre a navegação
mas proibido fazer barcos?"
" Mas vêm o tempo e a idéia do passado
visitar-te na curva de um jardim.
Vem a recordação, e te penetra
dentro de um cinema, subitamente. "
" Com o tempo, a esperança
e seus maquinismos,
outra mão virá
pura - transparente -
colar-se a meu braço. "
" ... Articulando os bichos e suas visões, o mundo e seus problemas,
imagina o rei com suas angústias, o pobre com seus dilemas,
imagina uma ordem nova; ainda que uma nova desordem,
não será bela? "
" Sempre no meu amor a noite rompe.
Sempre dentro de mim meu inimigo.
E sempre no meu sempre, a mesma ausência. "
" Nem dói aquilo que doía;
ou dói, agora, quando já se foi?
Que dor se sabe dor, e não extingue?
(Não cantarei o mar: que ele se vingue
de meu silêncio, nesta concha). "
(frases retiradas do livro : É tarde para saber - José Guimarães)
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